Tancredo Neves e o pai atuavam juntos em hospital particular na Bahia Crédito: Reprodução/Redes sociais/Reprodução Correio
O médico Arylton Feliciano de Arruda, pai de Tancredo Neves, suspeito de matar a delegada Patrícia Neves Jackes Aires, também acumula um passado criminoso. Em 2022 ele foi demitido de um hospital particular na cidade em Euclides da Cunha, por ter levado o filho para estagiar sem o consentimento da unidade. No mesmo ano, ele foi investigado por falsidade ideológica, mas não chegou a ser indiciado. Arylton também é investigado por um suposto crime de estelionato, em Itamaraju, ocorrido em 2023, segundo informa nesta quarta-feira (14) reportagem doe Maysa Polcri no jornal Correio.
Tancredo Neves confessou ter matado a delegada Patrícia Neves e está preso em Salvador. Ele levado pelo pai, Arylton, para trabalhar na Unidade Municipal Antônio Carlos Magalhães, administrada pelo Hospital Português, em Euclides da Cunha. O problema é que o filho se formou em Medicina fora do Brasil e não fez o Revalida, exame necessário para revalidar o diploma emitido no exterior. Por conta disso, até hoje ele não possui registro no Conselho Federal de Medicina (CRM), nem vínculo com o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb). Sendo assim, não tem permissão para atuar como médico em nenhum estado brasileiro.
O Revalida é um processo de revalidação dos diplomas de médicos que se formaram no exterior e querem atuar no Brasil. O exame é obrigatório e direcionado tanto aos estrangeiros formados em medicina fora do Brasil quanto aos brasileiros que se graduaram em outro país e querem exercer a profissão em sua terra natal.
Quando soube da conduta irregular do médico, o Hospital Português de Euclides da Cunha demitiu Arylton, mas não denunciou o caso à polícia. Coube ao Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciar Tancredo Neves por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. Arylton chegou a ser investigado, uma vez que o filho usava o CRM do pai para atuar, mas não foi indiciado, segundo a Polícia Civil, que não detalhou as razões para isso.
Como o esquema foi descoberto
O esquema foi descoberto por uma paciente do hospital. Em uma consulta, ela foi atendida por Tancredo, mas percebeu que ele prescreveu uma receita com o registro médico de outra pessoa – o pai.
Durante dois anos, a investigação foi conduzida pela Delegacia Territorial de Euclides da Cunha que, neste ano, indiciou Tancredo Neves por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica, após denúncia do MP.
Em nota, o Hospital Português de Euclides da Cunha informou que o médico Arylton Feliciano foi desligado imediatamente após a unidade tomar conhecimento do ocorrido, em 2022. A unidade informou ainda que a atuação médica na instituição acontece mediante apresentação prévia de documentos, além de aprovação da coordenação médica, e que Tancredo Neves nunca integrou o quadro de funcionários do hospital.
Já o Cremeb disse que vai investigar se o médico Arylton Feliciano de Arruda foi cúmplice do filho no suposto crime de falsidade ideológica. Ele tem registro ativo no Cremeb desde dezembro de 1975 e não tem especialidade médica registrada. O conselho afirmou ainda que vai investigar se Tancredo Neves, que não possui registro médico no Brasil, foi contratado para atuar como tal.
Além do imbróglio que envolve a atuação médica irregular do filho, Arylton Feliciano de Arruda é investigado pelo crime de estelionato, em Itamaraju. O processo investigatório criminal (PIC) é conduzido pelo Ministério Público da Bahia desde novembro de 2023. O órgão foi procurado, mas não se manifestou sobre o andamento da investigação.
Delegada fez empréstimo para assassino fazer registro médico
As investigações sobre a morte da delegada Patrícia Neves Jackes Aires, encontrada morta em seu próprio carro, em São Sebastião do Passé, indicam que ela e Tancredo Neves discutiram antes da vítima ser morta. Em depoimento, ele confessou ter matado a então noiva asfixiada com o cinto de segurança do veículo.
De acordo com a delegada-geral Heloísa Brito, uma das linhas de investigação é que a briga ocorreu por conta da cobrança de um empréstimo feito por Patrícia para Tancredo.
“Eles tinham, de fato, uma relação conflituosa. Estamos investigando a possibilidade de ela ter feito um empréstimo a ele e ter cobrado o valor. Ele iria usar o valor para revalidar o diploma, que teria sido feito fora do Brasil”, falou, durante coletiva de imprensa, na terça-feira (13). O processo de revalidação de diploma médico possui duas provas que, juntas, custam R$3.630. – Fonte: jornal Correio.
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