Chegar à Ilha de Itaparica pelo velho e superado ferry-boat exige paciência e sacrifício de milhares de soteropolitanos. Mas o amor pela Ilha fala mais alto. – Fotos: Reprodução/Redes Sociais.
Difícil se entender este amor desenfreado do soteropolitano pela Iha de Itaparica. Praias belas, águas calmas, tranquilidade. E muvuca. Sim, muita muvuca, também, nos principais povoados, carros de som disputando quem fala mais alto. Ou quem incomoda mais.
“Muita esculhambação também. Tanto em Vera Cruz como em Itaparica. Tem sim”, completa um veranista.
E, é bom lembrar: não é só de Salvador que a Ilha recebe seus ‘apaixonados’ frequentadores. E o pessoal da muvuca também. Chega gente de todo o Recôncavo e de cidades do Baixo Sul. De Feira de Santana e Santo Antônio de Jesus, principalmente. Os condomínios foram literalmente invadidos.
Afinal, como se explicar tanto sacrifício para se chegar ao “paraíso”? Vale a pena ficar dentro de um carro, debaixo de intenso sol, por quatro, cinco, seis horas, do velho e superado Sistema Ferry-boat para alcançar a Ilha de Itaparica?
“Eu amo a Ilha. E acabou. O sacrifício vale a pena, sim. Não tem lugar igual para quem busca praias da melhor qualidade e congraçamento com vizinhos, com as famílias. É bonito demais quando chego em minha casa e reencontro meus vizinhos. O papo rola a noite toda. Nada igual”, conta Laís Araújo, de Salvador, com casa em Barra do Gil, em Vera Cruz.
Lais desembarcou na Ilha nesta sexta-feira (17). Não pegou a horrorosa fila de veículos no Ferry-boat, que ontem chegou ao bairro de Roma.
“Consegui passagem com hora marcada há mais de um mês. Aí comprei. Mas já enfrentei fila também em outras ocasiões. E não me arrependo nunca”, garante ela.
Belas praias, gente humilde e acolhedora. Mas falta muito (ou quase tudo) para a Ilha de Itaparica se destacar e deslanchar no cenário turístico. Os dois municípios – Vera Cruz e Itaparica – são bem carentes de serviços como transporte, saúde, saneamento, lazer e, principalmente, segurança pública.
Vera Cruz e Itaparica precisam muito também de uma infraestrutura robusta e específica para atrair visitantes de todo o país e do exterior. Como ocorreu em Praia do Fonte (Mata de São João), Morro de São Paulo (Cairu) , Itacaré e Porto Seguro, por exemplo.
Enfim, a Ilha de Itaparica recebe milhares de pessoas em feriadões prolongados e no Verão, mas a grande maioria veranistas. Mas hoje não tem sequer um empreendimento do setor hoteleiro de porte: o último foi o Club Med Itaparica, que fechou as portas em julho de 2019 depois de 40 anos. O grupo francês preferiu investir em Trancoso (Porto Seguro).
Os povoados da Ilha são carentes e não existem políticas para capacitar o morador nativo ou preparar profissionais para o turismo. As políticas municipais são voltadas basicamente para o tapa-buraco de ruas.
“É inacreditável a gente ver Boipeba, na Ilha de Tinharé, junto ao Morro de São Paulo, receber turistas do mundo inteiro, e ver os lugarejos da Ilha de Itaparica, com o mesmo potencial ou com lugares bem mais atraentes, sem receber nenhum alemão, nenhum francês, nenhum gringo, enfim. Isso demonstra que a Ilha de Itaparica está despreparada”, sustenta o veranista Joaquim Santos Leite, que há 20 anos frequenta a Ilha e agora é veranista da localidade de Coroa.
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